CORPO EM MOVIMENTO

CORPO EM MOVIMENTO

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O corpo, o movimento e a aprendizagem

Quem dança tem mais facilidade para construir a imagem do próprio corpo, o que é fundamental para o crescimento e a maturidade do indivíduo e a formação de sua consciência social

A dança é uma expressão artística baseada no movimento corporal. Ela aparece em duas formas: a teatral e a social. No primeiro caso, é executada num palco, tendo como estilos principais o medieval e o balé (clássico, moderno e contemporâneo). No outro, ela é praticada ao ar livre ou em clubes de baile. Nesse grupo estão os gêneros populares – como o frevo, o forró, o carimbó etc. – e as danças de salão, do ventre e de rua. Nos dois casos, os passos cadenciados são acompanhados de música e transmitem sensações e sentimentos por meio de um conjunto ordenado (teatral), chamado coreografia.  

A dança surgiu com a função de permitir ao homem adorar os deuses e a natureza. Nas cavernas de Lascaux (França), Altamira (Espanha) e serra da Capivara (no Piauí) é possível observar desenhos com cenas de pessoas em roda, saltando e se comunicando com o corpo. É como se nossos antepassados quisessem reproduzir graficamente os sentimentos proporcionados por uma boa caça e uma colheita frutífera, a alegria causada pela chuva ou o medo provocado por um predador. A primeira coreografia que os estudiosos imaginam ter sido criada é a do homem que veste uma pele de animal e tenta imitar seus ataques ou fugas.

Ao longo do tempo, essa forma de Arte passou por transformações. Uma das mais importantes foi realizada na França do século 17, durante o reinado de Luís XIV. Exímio bailarino, ele fundou em 1661 a Academia Real da Música e da Dança. Nascia assim o conceito de balé, um tipo de dança executada pelos nobres nas festas da corte, que duravam dias. O gênero foi bastante difundido em toda a Europa. Na virada do século 19 para o 20, a francesa Isadora Duncan (18721927) mudou completamente o jeito teatral de dançar. Ela causou enorme sensação ao rejeitar as sapatilhas de ponta, símbolo sagrado do balé. Descalça, Isadora fazia seus passos arrojados e menos rígidos, interpretando as músicas a seu modo. Em 1913, o russo Vaslav Nijinsky (18901950) coreografou A Sagração da Primavera, peça musical dissonante e assimétrica do russo Igor Stravinski (18821971) que tinha movimentos diferentes para os vários bailarinos. Assim, ele eliminou o conceito de corpo de baile. 

Do ponto de vista corporal, a dança é uma forma de integração e expressão individual e coletiva: exercitam-se a atenção, a percepção e a colaboração entre os integrantes do grupo. Quem a pratica tem mais facilidade para construir a imagem do próprio corpo – fundamental para o crescimento e a maturidade do indivíduo e a formação de sua consciência social.

Como a ação física é a primeira forma de aprendizagem, é importante que essas atividades estejam sempre presentes na escola. A criança estimulada a se movimentar explora com mais freqüência e espontaneidade o meio em que vive, aprimora a mobilidade e se expressa com mais liberdade. Geralmente, nos primeiros sete anos de vida, os pequenos têm um vocabulário gestual muitas vezes maior do que o oral. De acordo com pesquisas recentes feitas na área da neurociência, é cada vez maior a relação entre o desenvolvimento da inteligência, os sentimentos e o desempenho corporal. Fica para trás, portanto, aquela visão tradicional que separava corpo e mente, razão e emoção.  

"As descobertas feitas com o corpo deixam marcas, são aprendizados efetivos, incorporados. Na verdade, são tesouros que guardamos e usamos como referência quando precisamos ser criativos em nossa profissão e resolver problemas cotidianos. Os movimentos são saberes que adquirimos sem saber, mas que também ficam à nossa disposição para serem colocados em uso" 
REVISTA NOVA ESCOLA - Edição Especial | Abril 2007
Esteban Levin, psicólogo argentino e pesquisador em psicomotricidade

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